武芸は武芸です – Bugei wa bugei desu.

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Bugei wa bugei desu. Arte marcial é arte marcial.

Com essa frase japonesa proferida diretamente a mim por Hiroshi Isoyama, por ocasião de minha segunda estadia como uchideshi em Iwama, convido todos a uma reflexão mais corajosa sobre a realidade da arte marcial Aikido e a prática contemporânea. 

O fundador do Aikido, O Sensei Morihei Ueshiba, e seus uchideshi em Iwama por volta de 1955. Hiroshi Isoyama é o segundo à frente a partir da direita.
Foto: Arquivo da Internet.

Toda arte marcial é calcada em princípios que as regem e sobre os quais são edificadas não apenas as técnicas, mas também a filosofia da arte. Artes marciais são baseadas em pontos focais como bases, movimentações, ataques, defesas, desvios, assunção do controle do combate, etc.  

A postura de combate ideal é a que não revela ao oponente nada a respeito do seu domínio técnico, por isso as bases, no aikido, são momentos de treino. É, portanto, fundamental que entendamos que o momento KEIKO (treino/aula) é tão somente a preparação para o momento combate, que esperamos nunca acontecer. Quando treinamos com MAKOTO (verdade, sinceridade) temos a obrigação de observar a utilidade e a inutilidade de certos movimentos ao combate, sendo que alguns desses movimentos inúteis ao combate podem ser úteis ao aprendizado de movimentos realmente úteis em combate. Esta é uma função didática de certos movimentos no treino cuja aplicabilidade em combate, de maneira direta, é inexistente. Diante dessa liberalidade didática, há surgido uma infindável gama de movimentos sem sentido que enchem a cabeça do aluno de dificuldades e dúvidas e o afasta da eficiência em combate. Leiam os comentários de artistas marciais de outras artes em vídeos de aikido… raros são os que percebem a diferença entre técnicas eficientes das apenas didáticas, acabando por desacreditar a arte e afastar possíveis alunos. 

O Sensei (como carinhosamente chamamos o fundador do Aikido) deixou tudo muito bem sistematizado nas mãos de vários mestres, sendo o que o acompanhou por mais tempo, de mais perto e até seu último dia de vida, Morihiro Saito Sensei. Visitar as técnicas primordiais, buscando entendê-las, perceber que cada uma delas é como um arquivo “zipado”, compactado, de onde se desdobram mais e mais conhecimentos, é um exercício seguro para aprender um aikido com a marcialidade oferecida por O Sensei. Quando notamos que são os FUNDAMENTOS que norteiam uma arte, devemos buscar incessantemente a compreensão destes. Por fundamentos entendamos que representam o sustentáculo sobre os quais se ergue toda uma arte.

Sensei Bernardo Caneca demonstrando a aplicação da técnica no Seminário de AIkido na Universidade Federal de Ouro Preto/2024.
Foto: João Saidler.

Desta maneira espero sinceramente que os “Jedi” de plantão parem de prestar esse desserviço ao Aikido, afastando os buscadores sinceros de seus caminhos. Aiki-DO (caminho), iniciado na faixa branca e que, se dominado pelo coração e dedicação, jamais terá fim, não obstante o grau aparente do praticante. Trilhar este caminho é evitar conflitos e enfrentar conflitos. Que a verdade e a sinceridade (MAKOTO) sejam sempre nossas armas. 

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